30.12.13

Não estou aqui para gritar meus dissabores de uma vida sem você ou chorar minhas lamúrias e ilusões perdidas, afinal de contas, apesar de tudo, eu estou bem. Não que eu esteja a cantarolar pelos cantos, a dançar na chuva ou a sorrir para o nada. Sinto sua falta no amanhecer, no entardecer e no tilintar dos sinos da noite, mas é que já me conformei em marcar uma data prévia em que me esquecerei de nossas lembranças. É que se não posso lembra-las com aquele sorriso de canto próprio dos corações aquecidos, eu já não as quero mais. Cansei de me transbordar de você, de me deter a cada detalhe nosso onde já não existe o "nós". Sua presença contida nas nuvens do lembrar já não me bastam no caminho dos olhos abertos. Esquecer, esquecer, esquecer, lembrar. Temo já ser hora de recolher as flores, guardar a louça, embrulhar as lembranças e seguir por outro caminho antes que a chuva que caí agora encharque de vez meu pobre coração. Já não sei se está mais aqui para me despedir, mas deixo-lê mais um sorriso, caso queira empilhar entre sua bagunça. Sigo em frente tentando fugir das nuvens escuras que insistem em se formar no céu. Lá em frente, quando conseguir guardar tudo, vou me ater a outro caminho e quem sabe colher outras flores. De agora, eu sigo, sigo, querendo apenas ficar.
Dezembro chegou e com ele o fim de mais um ano, 2013 foi um ano impar, não apenas pela sua lógica numérica, mas também por tudo o que nele aconteceu. Aliás, curioso quantificar 2013 como apenas um ano,  tanta coisa aconteceu, tantas lembranças, tantas mudanças, tantos sentimentos diferentes que para mim 2013 foi muito mais que meros 12 meses. É difícil até lembrar de tudo, foram tantas pessoas que entraram e saíram (e retornaram e saíram de novo) da minha vida, tantas risadas, tantas tardes loucas regadas a amigos e uma mesa de bar. Tantos momentos bons e também ruins. Muito estresse e também muito estudo. Alguns tantos bons amigos conquistados e outros ainda mais enraizados nessa grande família que escolhi pra vida. Dos amores a gente passa, que desse, 2013 fez questão de embebedar de uma boa dose de complicação. 2013 foi realmente um ano e tanto, daqueles de não se esquecer tão cedo e talvez também não se desejar tão cedo. Mas afinal de contas, tudo que passei, dos momentos bons aos ruins, das risadas ao choro, dos amores aos dissabores, tudo valeu a pena. Afinal de contas, termino mais esse ciclo mudada, transformada e poderia dizer, um tanto quanto mais madura. De 2013 agora me restam as lembranças e os resultados que vou desfrutar em 2014. Desejo que nesse próximo ano as coisas boas se multipliquem, as ruins sejam apenas para fazer volume, que os amigos continuem sempre ao meu lado e só multipliquem, que as risadas sejam ainda mais altas, que os choros sejam apenas momentâneos e engolidos rapidamente por sorrisos. Que as loucuras só aumentem, que as festas durem mais, que o álcool nunca acabe e que o coração aquiete-se mais e se torne um pouco mais aquecido. Feliz Ano Novo a todos e que venha 2014.

15.11.13

Estou me sentindo uma criança perdida da mãe em pleno supermercado. É assim que me sinto a cada vez que você entra na minha vida e vai chegando assim desse seu jeito, sentando no sofá e mexendo em tudo. Eu fico olhando pra todos os lados tentando te achar, sem saber se vou pra frente ou pra trás, sempre com medo de me distanciar a cada passo de você. E isso tudo me faz tão mal, me sinto tão fora do eixo, fora do controle e você sabe que odeio não ter o controle das coisas. Mas o maior problema é que esse cheiro que fica quando você passa pela minha vida me faz um benzinho, essas borboletas no estômago me fazem quase, veja bem, eu disse quase, me fazer sair alguns centimetrolecos do chão. É que você sabe que para uma leonina de duas décadas de existência, voar com o coração na mão é manobra muito arrisca, merece cuidados e no nosso caso, muitos. A vida bem sabe, que depois de encontrar várias muralhas pelo nosso caminho e não achar nenhuma corda para subir, eu vou ali meio de lado, tentando achar um outro caminho, um pouco mais florido quem sabe, mas é que não da né. As borboletas sempre me levam pra perto daquele cheiro lá naquele corredor. Seguir seu caminho é difícil, é conturbado, esburacado, invariável, mas esse cheiro, a esse cheiro, ele não me deixa sair dele não.

28.9.13

Durante toda a minha vida eu soube exatamente o que fazer, o que falar, da onde chegar. Meus passos e minhas ações eram minuciosamente pensados, nada saia do lugar, se saísse eu logo dava um jeito de reorganizar tudo. Mas de uns tempos pra cá parece que meu mundo simplesmente virou de cabeça para baixo, nada está no seu lugar, na verdade nem eu mesma sei onde é o meu lugar. Parece que de um dia para o outro eu me perdi, apagaram-se as luzes e meus passos tortos em meio ao breu me tiraram do caminho, me enfiaram em uma mata densa e mal assombrada. Está tudo tão escuro, deserto, sem sentido e nem ao menos gritar eu dou conta. Minha voz se calou, meus pés enrijeceram, meu sorriso foi roubado e meus sonhos deturbados. Nada mais faz sentido e eu só quero encontrar o interruptor que liga novamente a luz da minha vida. 

20.5.13

Ontem a noite molhei novamente meu travesseiro como se o tempo não tivesse passado. Molhei meu travesseiro como se minhas roupas não tivessem ficado pequenas, como se meus gostos não tivessem mudado, como se a  ferida não tivesse sarado. Voltei ontem a noite a ser aquela menina de 12 anos, cabelos transados, gordinha, sobrancelha grossa e jeito de menina moleca que ainda com cheiro de brincadeira era afogada no mar dos estereótipos. Aquela menina que hora outra enquanto brincava de futebol em meio a lama era questionada por não ter cabelos lisos, olhos azuis, jeito doce, ser mais delicada. Aquela menina que ainda mantinha a inocência no olhar que em noites como as de ontem mergulhavam em águas salgadas e profundas. Ontem a noite em que o tempo dentro daquelas quatro paredes parecia ter perdido a ordem, eu vi olhares de alguns raros antigos amigos, peludos e com ar de infância, me olharem com olhar de companheirismo. Ontem a noite a menina dormiu com o  gosto salgado e já conhecido escorrendo pelo rosto e deixando uma mancha úmida sobre seu travesseiro.  Hoje a mulher acordou com o choro ainda engasgado na garganta, vestiu sua melhor roupa, se maquiou, ergueu a cabeça e seguiu,  com a ferida ainda intacta, mas seguiu.