20.5.13

Ontem a noite molhei novamente meu travesseiro como se o tempo não tivesse passado. Molhei meu travesseiro como se minhas roupas não tivessem ficado pequenas, como se meus gostos não tivessem mudado, como se a  ferida não tivesse sarado. Voltei ontem a noite a ser aquela menina de 12 anos, cabelos transados, gordinha, sobrancelha grossa e jeito de menina moleca que ainda com cheiro de brincadeira era afogada no mar dos estereótipos. Aquela menina que hora outra enquanto brincava de futebol em meio a lama era questionada por não ter cabelos lisos, olhos azuis, jeito doce, ser mais delicada. Aquela menina que ainda mantinha a inocência no olhar que em noites como as de ontem mergulhavam em águas salgadas e profundas. Ontem a noite em que o tempo dentro daquelas quatro paredes parecia ter perdido a ordem, eu vi olhares de alguns raros antigos amigos, peludos e com ar de infância, me olharem com olhar de companheirismo. Ontem a noite a menina dormiu com o  gosto salgado e já conhecido escorrendo pelo rosto e deixando uma mancha úmida sobre seu travesseiro.  Hoje a mulher acordou com o choro ainda engasgado na garganta, vestiu sua melhor roupa, se maquiou, ergueu a cabeça e seguiu,  com a ferida ainda intacta, mas seguiu.

2 comentários:

  1. Vou passar a frequentar esse bar...
    E, tipo, já sou devaneador nato. É nóis!

    Bjs!

    http://pecasdeoito.blogspot.com.br/

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